O luto pela perda de um animal é tão difícil quanto qualquer outro

Por Cynthia Gonçalves

Minha vida na proteção começou com anjo comprado. Dai vocês me perguntam, como assim comprado? Isso mesmo, eu não tinha ideia de como o mercado de filhotes era sujo e desumano, o quanto as matrizes sofrem com dezenas de partos, muito menos o que um canil pode esconder por trás dos filhotes fofinhos.

Foi com a minha Duda, uma yorkshire, essa linda da foto, que aprendi que o animalzinho da rua tinha as mesmas necessidades que ela, mas com uma diferença, não havia ninguém que cuidasse deles como eu cuidava dela. Assim aconteceu o start em minha cabeça, meus olhos ficaram mais atentos a cada vidinha que cruzava o meu caminho, e automaticamente comecei a ajudar, resgatar, cuidar, castrar e colocar para adoção responsável.

A minha Maria Eduardo (Duda) ficou conosco por onze anos, mas dia 26 de janeiro deste ano ela virou a estrela mais brilhante do céu. Foi e levou parte da alegria dos meus dias, levou parte do amor que me envolvia, levou boa parte da doçura que me afagava enquanto estava ao seu lado.

Quando perdemos a luta para uma doença chamada síndrome de Cushing, após seis anos de medicações e muitos cuidados, senti uma dor que me tirava o ar, dor que se tornou saudade, e que hoje ainda continua insuportável. O peito pesa, os olhos molham, os pulmões se enchem e esvaziam rapidamente, como se buscassem ajudar a diminuir tudo de ruim que a partida da minha pequena deixou. Quase oito meses se passaram e ficaram as lembranças, ficaram os retratos e os vídeos, que ao invés de ajudar, me lembram que ela não está mais aqui.

O luto com a perda de um animalzinho, que se tornam nossos filhos de pelo, é tão intenso e doloroso quanto qualquer outro luto. A única diferença é o julgamento implacável das pessoas que não sabem o que é o amor de um animal por seus pais humanos.

A Dudu me ensinou tanto, o primeiro ensinamento foi o amor incondicional, o segundo ensinamento foi que eu era capaz de cuidar bem de uma vida que dependia de mim. Sempre fazia festa quando eu chegava em casa, ou simplesmente acordava para trabalhar, companheira, manhosa para dizer que queria algo. É incrível como o tempo nos faz entender o que eles pedem com seus chorinhos e latidos.

Além de muito amor, ela me trouxe responsabilidade e a consciência que os animais de rua dependiam tanto dos humanos quanto os que temos dentro de casa.

Hoje tudo me lembra minha Duda, minha Dudu, minha gordinha… os petiscos como maçãs e cenouras, os olhinhos de jabuticaba e o nariz de botão da Manu (irmãzinha dela). Aliás, a Manu nunca mais foi a mesma, parece que busca em outros cães a sua presença… mas nunca encontra. Assim ficou nossas vidas sem ela, há um buraco, um vazio, uma ausência que todos os dias doem, mas há dias que fica insuportável.

Todos os dias faço em pedido quase infantil, como diz a música peço com loucura para ela renascer e voltar pra mim. É possível? Não sei, mas espero que sim.

Respeite o luto de quem perde um animalzinho, a dor é intensa, é a mesma de quem perde um ente querido.

Publicado n’O Taboanense em 01/08/2018

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